quinta-feira, 10 de abril de 2014


Vida em plenitude? 

As polícias Militar e Civil do Rio de Janeiro, na madrugada de quinta-feira, 13 de março, começaram a ocupar a comunidade da Vila Kennedy. A ação tinha como objetivo preparar a região para receber a 38ª UPP, a segunda da Zona Oeste. Cerca de 300 homens que participavam da operação chegaram na comunidade por volta das 5h, em comboios formados por veículos policiais.

Vila Kennedy tem hoje cerca de 23 mil moradores. Apenas no primeiro semestre de 2013, mais de 200 pessoas, na sua maioria jovens e negras, foram presas pela polícia da região. A comunidade, assim como tantas outras da Zona Oeste, sofre por falta da ação do poder público e de políticas públicas voltadas para melhoria das escolas, dos postos de saúde, área de lazer e centros culturais que valorizem os artistas locais como também ofereçam atividades e atrações que possam desenvolver o senso critico e as potencialidades do cidadão local.

Por fim, as bandeiras do Brasil e do estado do Rio de Janeiro foram hasteadas por policiais civis, militares e bombeiros, durante cerimônia no campo Leão XIII, onde será instalada a próxima Unidade Pacificadora do estado. Espera-se que após a instalação haja redução do índice de violência na região. Logo, a Secretaria de Segurança estima que 33 mil pessoas serão beneficiadas, considerando a comunidade vizinha, a Favela da Metral.

Os moradores da Vila Kennedy, esperam que a comunidade, a partir de agora, viva novos tempos, sem violência. Para essas pessoas e tantas outras de comunidades pobres e desprovidas de qualquer ação do Estado, violência é somente um ato físico praticado por um indivíduo contra o outro. Não conseguem entender que existem várias formas de violência e que eles as sofrem quase que na totalidade.

Jesus disse que veio para que tenhamos vida em plenitude (Jo. 10:10). Mas como podemos viver em plenitude se somos violentados o tempo todo por falta de transporte coletivo digno, por falta de médicos nos postos de saúde e hospitais, de professores e de escolas e creches para nossas crianças, coisas básicas e essências para que possamos viver bem?

Implantar UPP nas comunidades carentes é uma medida paliativa que o governo adota para dizer que está fazendo algo pelos mais pobres da sociedade. Tenho dúvidas quanto a eficácia e a prevalência desse projeto num futuro próximo. Quem lembra o “piscinão” de Ramos e da descentralização da queima de fogos, que vem acontecendo nos últimos anos. Será que isso, na verdade, significa melhorar para os mais pobres ou é para tirá-los das regiões freqüentadas pelos mais ricos. Da mesma forma as UPPs são para proteger as comunidades ou para reprimi-las ainda mais?

É preciso ter fé na possibilidade de mudança da organização social. E isso, só vai acontecer a partir da relação harmoniosa e solidária entre todas as pessoas, independente da crença, da opção sexual, do gênero e da etnia. Para tanto, nossa missão é disseminar “a justiça de Deus que se realiza através da fé em Jesus Cristo para todos sem distinção” (Rm 3:22). Assim, um novo pensamento conduzirá nossos caminhos para Terra onde corre leite e mel, é o Reino de Deus sendo construído por cada um de nós. Não haverá mais nenhum tipo de violência, consequentemente não será preciso UPP.
 

João Crispim Victorio

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