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sábado, 10 de outubro de 2015
quinta-feira, 8 de outubro de 2015
Crianças
e o vale tudo do capitalismo.
João
Crispim Victorio[i]
No Evangelho, segundo Marcos[1]
(10,14-15), está escrito: “Deixem as crianças vir a mim. Não lhes proíbam,
porque o Reino de Deus pertence a elas”. Neste caso, a criança simboliza o
fraco, o sem voz e sem vez, o ser que necessita de proteção. E Jesus Cristo vai
além: “Eu garanto a vocês: quem não receber como criança o Reino de Deus,
nunca entrará nele”. Jesus Cristo nos deixa claro que é preciso estar
desprovido de toda soberba para poder receber o Reino. Quando Ele faz este
gesto, o faz para mostrar a importância da criança enquanto ser social, já que
naquela época as crianças não tinham nenhum significado nessa área.
Como podemos ver, no
Evangelho de Marcos, Jesus Cristo mostra que as crianças devem ser respeitadas
e valorizadas como tal, Ele dá tanta importância a essa questão que faz uma
relação das mesmas com os adultos, quando diz que só será possível entrar no
Reino se o recebermos como crianças. No entanto, parece que nós, os cristãos
dos tempos de hoje, já nos esquecemos dessa preocupação de Jesus Cristo com os
pequenos. Pois, o que vemos é um total
desrespeito com nossas crianças e sua infância, sejam elas cristãs ou não,
pobres ou ricas. Um bom exemplo disso é, de modo geral, a falta de políticas
públicas direcionadas a orientar e regularizar as mídias em favor de proteger
as crianças do vale tudo do capitalismo e do deus dinheiro. Contudo, sabemos
que o povo brasileiro não é formado única e exclusivamente por cristãos,
conforme podemos verificar, segundo os dados do Censo Demográfico de 2010 do
IBGE[2].
O Censo mostra o crescimento
da diversidade religiosa no Brasil. Os católicos estão sofrendo redução, embora
sejam maioria. Os evangélicos, de modo geral, cresceram de 15,4% em 2000 para
22,2% em 2010. Esta pesquisa mostra o aumento dos espíritas, dos sem religião e
dos pertencentes às outras religiosidades. Os dados de sexo e grau de instrução
mostraram que os católicos e os sem religião possui maioria de pessoas do sexo
masculino e os espíritas os mais elevados indicadores de educação e de
rendimentos.
Importa notar que de acordo
com os dados do censo, fica claro que a maioria do povo brasileiro participa de
religiões cristãs. Sendo assim, podemos considerar que muitos dos nossos
governantes, parlamentares e diretores executivos de empresas, particularmente
os da área de comunicação, são cristãos. É interessante, nesse caso, ver que os
ensinamentos de Jesus Cristo são falados e lembrados somente nos templos,
diga-se de passagem, templos que são verdadeiros palácios de ostentação em
comunidades pobres, enquanto que na prática do dia a dia, parecem esquecer os
compromissos de cristãos, conforme vimos no Evangelho de Marcos. Cristo quer
que lutemos por vida digna para nossas crianças para no futuro termos o Reino
de Deus aqui na Terra. Nesse sentido, é injustificável a falta de cuidados que
temos com nossas crianças.
Mas, como se desenvolveu na história da humanidade
a concepção de infância? Para entender esse processo é importante
compreender as mudanças que ocorreram em relação ao conceito de infância, em
determinados períodos do processo civilizatório, ou seja, a visão que temos
hoje de criança foi sendo historicamente construída ao longo dos séculos.
Algumas atitudes que parecem absurdas para nós, no nosso tempo atual, como
tratar à criança igual a um adulto em miniatura, há alguns anos passados era
normal. A sociedade de tempos atrás, independente do credo religioso que
professava, se abastarda ou pobre, se instruída ou sem instrução alguma, não
via a criança como um ser social com necessidades de cuidados especiais.
A origem da palavra infância
está no latim infantia, do verbo fari (falar),
onde fan (falante) e in constitui a negação do verbo.
Portanto, infans refere-se ao indivíduo que ainda não é capaz de
falar. Este conceito está relacionado a fase da vida humana do nascimento até à
adolescência. Porém, ao longo da história e das diferentes culturas, o conceito
de infância foi passando por modificações. Nesse contexto, durarante o século
XX, surgem diversas organizações[3]
no mundo e no Brasil, que culminam na proteção à criança e ao adolescente,
principalmente, no que diz respeito a implantação de políticas públicas de
beneficiamento as famílias mais pobres, resolvendo assim um dos maiores
problemas enfrentados por essa categoria social: a falta de alimentação.
Combatendo este problema, consequentemente, outros estariam sendo revolvidos
como o baixo nivel de escolaridade, o trabalho e à violência física e sexual
sofrida por nossas crianças e adolescentes.
No Brasil, a criança ganha devida atenção a
partir da Constituição de 1988. Constituição marcada por vários avanços na área social e de gestão das políticas
sociais, no sentido de abrir à participação das comunidades, por meio de
conselhos deliberativos e consultivos. Em seu art. 7º, XXXII, eleva para 14
anos a idade mínima para o trabalho, 12 anos para o aprendiz e proíbe o
trabalho noturno, perigoso ou insalubre para menores de 18 anos. Também, desde
a Assembleia Nacional Constituinte, em 1987, que um grupo de trabalho vinha se
reunindo para concretizar os direitos da criança e do adolescente. O resultado
deste trabalho é o artigo 227 da Constituição Brasileira, base para a
elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. Segundo o Estatuto, é
considerado criança a pessoa com até doze anos incompletos e adolescentes os
que se encontram entre os doze e os dezoito anos. O período que compreende a
criança é subdividido em três processos de desenvolvimento infantil: primeira
infância (0 - 3 anos); segunda infância (3 - 6 anos) e terceira infância
(6 - 12 anos). A partir daí temos a adolescência.
Podemos
dizer, então, que diante da evolução do conceito de criança e de infância, em
termos de leis, temos avançado bastante no mundo e no Brasil. Mas,
particularmente no Brasil, falta o rigor das autoridades competentes em fazer
cumprir as leis e não o contrário, criar novas leis no intuito de anular as já
existentes, elaboradas e discutidas por anos, em favor da proteção a criança e
do adolescente, como é o caso da diminuição da maioridade penal. Enquanto cidadãos
devemos questionar sobre a qualidade das estruturas prediais, do sistema de
educação e da pedagogia oferecidas as nossas crianças nas creches, nas pré – escolas
e nas escolas de nível fundamental e médio. Pois, esta concepção de educação
assistencialista e bancária precisa ser modificada. Isso significa dizer que
temos de ir muito além dos aspectos legais. É preciso rever concepções sobre a
infância, as relações entre classes sociais, as responsabilidades da sociedade
e o papel do Estado diante das crianças pequenas, conforme RCNEI[4].
Devemos, também, questionar as programações e os comerciais exibidos nas
televisões, principalmente, os que visam usar nossas crianças para atingir os
adultos no intuito de vender seus produtos, sem o mínimo de preocupação com as
interferências de modo negativo que possam causar ao psicológico das crianças,
isso não importa na ganância do dinheiro.
Sabemos que a principal
função da televisão é o entretenimento e não a educação. Porém, se usada de
maneira a juntar as duas coisas, ou seja, exibindo programas que eduquem
entretendo ao mesmo tempo, tornar-se um objeto melhor. Mas não quero, aqui, culpar
só a televisão diante de outros meios midiáticos como o computador, o celular e
a internet, nem quero minimizar a
responsabilidade da família na educação dos filhos. Ao me referir a família não
estou falando apenas da família tradicional, independente do modelo, é
necessário que a mesma tenha controle da programação e sabedoria na orientação
com diálogo aberto sobre o que se está assistindo na televisão e acessando na internet. Isso é trabalhoso e tem mais
um agravante, muitos dos pais de hoje são os que até ontem passavam o dia
inteiro diante das TVs. São os ditos pais “modernos” e “liberais”, aqueles que
não têm tempo e nem criam tempo para acompanhar seus filhos. As consequências
desse processo destrutivo é o que vemos todos os dias em todos os lugares,
crianças sem respeito a nada e a ninguém e, por fim, sem capacidade de
discernimento entre o certo e o errado.
Então, nós cristãos temos o dever de assim como
Jesus Cristo, dizer com toda a tranquilidade e amor: “Deixem
as crianças vir a mim. Não lhes proíbam, porque o Reino de Deus pertence a elas”
(Mc. 10,14-15). Para tanto, devemos agir
na direção de uma educação integral, não no sentido de, simplesmente, manter
nossas crianças e os adolescentes nas escolas por 6 horas diárias, mas no
sentido de ocupá-las com as principais dimensões da vida humana. Devemos,
também, reagir a inércia provocada pelas telas, cada vez mais sofisticados, dos
aparelhos de televisão e exigir melhor orientação e regularização das mídias em
favor da proteção de
nossas crianças. Acredito que uma sociedade justa e fraterna só será possível
quando nossas crianças deixarem de ser a alma do negócio.
Rio de Janeiro, 6 de
outubro de 2015.
[1] Citações da Bíblia Edição Pastoral.
[2] IBGE - Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística. Dados do Censo Demográfico de 2010.
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/.
[3] A evolução histórica
brasileira de proteção á criança não coincide com a da Europa. Já que até meados
do século XIX, a maior parte da população brasileira estava concentrada na área
rural, e o trabalho de crianças e adolescentes era comum para aumentar o
rendimento familiar. Apesar de muitas mudanças, esta é uma realidade que vemos
até hoje. No Brasil, Leis que vão beneficiar nossas crianças e adolescentes,
direta ou indiretamente, tem início a partir de 1871, com a Lei do Ventre
Livre, até, por enquanto, 2013, com a 3ª Conferência Global sobre o Trabalho
Infantil, realizada no Brasil. http://www.promenino.org.br/direitosdainfancia/historico.
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