Formação
de Professores de Nível Médio: uma reflexão necessária.
João
Crispim Victorio*
Desde o início do século XXI,
vivemos em todo nosso país, um processo regressivo na busca dos cursos de
formação de professores de nível médio. O número de jovens que inicia o curso e
vai até o fim, também está cadente. Observo esse fato no meu dia a dia de
educador, lecionando disciplinas pedagógicas, e acompanhando de perto a
trajetória desses jovens em alguns colégios ou institutos, como eram chamados
no passado recente, da Rede Estadual de Educação do Rio de janeiro.
Se há demanda para essa
modalidade, principalmente nas cidades do interior, onde a obrigação com a Educação
do Estado - Ensino Médio, se confunde com a dos municípios – Ensino
Fundamental, principalmente, por “falta de recursos”, é o que dizem os
prefeitos, então, que se faça a coisa de maneira correta. Pois, evidencio
algumas necessidades básicas como, a falta de investimento na formação
continuada do docente; pouco acesso ao material didático, que é suporte
necessário para embasar os conteúdos ensinados; falta de uma organização financeira
mínima para realizações de aulas passeio nos museus e centros acadêmicos, esta
é, inclusive, uma forma de aumentar o capital cultural dos nossos alunos e
mesmo dos próprios professores; valorizar o estudo e a carreira no magistério.
Hoje, no cenário atual, quando
questiono um aluno sobre seu interesse em cursar Pedagogia ou qualquer outro curso
que o habilite à docência, já que o mesmo está em um curso normal, sua resposta
é negativa e sempre acompanhada de comentários, também, negativos. Isso mostra o
seu total desinteresse pelo magistério. Acredito que essa falta de interesse se
dê ao “prestígio” que goza algumas outras profissões em nosso país em
detrimento da profissão de professor. Mas a resposta do aluno, no meu entender,
chama atenção para uma outra questão, tão grave quanto a já citada. Vejamos. Para
ele o curso de formação de professores que lhe é oferecido, não tem relação com
a identidade profissional, uma verdade. Sem me aprofundar muito aqui sobre esta
questão, digo que a falta de identidade profissional é um problema que tem
raízes no passado e continua acontecer entre nós professores, porém, nem sempre
percebemos.
Aproveitando a discussão sobre
o desinteresse do aluno, trago à baila a questão da indisciplina, vertente importante
dessa análise. Será que o desinteresse pela docência justifica o comportamento
inadequado dos alunos ou, isso, é coisa da adolescência, já que o modo como se comportam
é sempre visto como algo próprio da idade. Particularmente percebo,
infelizmente, que a falta de interesse pela escola vem desde o ensino
fundamental e chega até ao ensino médio devido ao descaso do poder público tanto
com os professores quanto com as escolas. Vejo, também, que a falta de
valorização do profissional da educação o torna desmotivado, isso reflete na
sua vida social, já que no sistema capitalista é bem-sucedido quem tem bens
materiais e poder de compra. É assim que a maioria da sociedade vê. Mas em se
tratando do professor de ensino médio na Modalidade Normal, o problema é mais
grave, pois esta é uma etapa da educação básica que envolve a construção de uma
identidade profissional dos alunos.
Dentro do sistema político e
ideológico que vem sendo construído pelas elites brasileiras desde o período
Colonial, ensinar tem um propósito, uma finalidade. Acredito que na luta contra
hegemônica esses não são os nossos propósitos, muito menos a nossa finalidade. Devemos
ir além de passar os conhecimentos acumulados para construção da sociedade
futura e de promover a manutenção da ordem vigente. Sendo assim, trago para o
debate a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB/96, e seus
artigos referentes aos princípios e fins da educação nacional, já que temos uma
importante reflexão a fazer, será mesmo que a escola está formando cidadãos para
o exercício da cidadania e qualificados para o trabalho? De que cidadania e
trabalho estamos falando? Esta é a pergunta que em se tratando do curso de formação
de professores devemos responder antes de considerar essas finalidades essenciais.
Porém, com nossos alunos desmotivados e descompromissados com a docência, como
alcançar tal objetivo?
É urgente e necessário a
reflexão sobre o curso de formação de professores de nível médio e o problema
não pode ser analisado apenas no âmbito das questões pedagógicas. Devemos levar
em consideração todo o processo histórico, social e cultural que influenciam
diretamente a formação de nossa sociedade, consequentemente de nossos alunos.
Nesse sentido, o papel da escola e do professor, enquanto agentes formadores e
transformadores da realidade posta, deve ser o de fiscalizar e cobrar a aplicação
de verbas e de políticas públicas direcionadas à educação. Não vejo outra saída
para o sistema de educação brasileiro, a não ser o de garantir condições de
trabalho, recursos financeiros suficientes e valorização do profissional da
educação.
Valença, 06 de junho de 2019.
Professor, Especialista em Educação e Poeta.