Um Novo Paradigma Educacional para a Contemporaneidade
João Crispim Victorio[1]
Quem professa algum conhecimento
Professa o que exatamente?
Pensa, poder ser da política
independente
Acredita na igualdade de
oportunidades
Imagina a escola neutra
Falta-lhe
consciência da função social
Professa para
quem, afinal?
(Poema de João Crispim Victorio
Livro: Sobre o Trabalho que Falo...)
Um novo paradigma se faz
necessário ao pensarmos a educação no atual momento. Um paradigma que se
caracterize pela desconstrução de algumas tradições do passado. O saber
científico, e outras questões colocadas para reflexão sobre o modelo atual das
práticas docentes, nas diversas instituições de ensino devem ser pensados pelos
envolvidos no processo ensino aprendizagem para o sucesso de todos.
Dessa forma o debate das
concepções contemporâneas e suas influências na educação são de grande
relevância na atual conjuntura. Discussão esta que sempre esteve presente nos
programas curriculares desde a década de 1970 e 1980 no intuito de romper com o
tecnicismo presente na Lei nº. 5.692/71 e que até hoje causa influência no
campo sócio educacional.
Mesmo após a instituição da
Lei nº. 9.394/96 (LDB/96) não se conseguiu extinguir as velhas práticas do
modelo educacional brasileiro, criadas no final do século XIX. Para piorar,
atrelaram a educação aos ditames dos organismos internacionais que regem o
mercado mundial e baseiam a formação humana em habilidades e competências
voltadas para o trabalho.
Diante do problema exposto, é
imperioso aprofundar essas discussões no currículo, não como um conceito, mas
uma construção cultural. Temos de ir além da superficialidade da discussão do
currículo oculto, formal ou informal, das concepções com base no ensino
tradicional. É necessário compreender o currículo como reflexo da sociedade
local e global, e que, por isso, sofre influências da política, da economia e
do meio social. Por fim, o currículo deve ser compreendido como um processo
elaborado e reelaborado pelos sujeitos da educação.
O novo currículo a ser
instituído deve ter compromisso ético-emancipatório com os sujeitos da
educação; ter sintonia com as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs);
ter diálogo entre os diversos campos do conhecimento e ocorrer de forma a
analisar e interpretar as diferentes fontes de informação. Nesse novo currículo
deve predominar a perspectiva do trabalho com os saberes em rede, ou seja, onde
todos os sujeitos se relacionem com igual importância no fazer escolar. Aqui o
conhecimento é construído de maneira semelhante a uma árvore em que as raízes
se conectam umas às outras dando sustentação, alimento e força para fazer com
que a aprendizagem seja alimentada e possa gerar “frutos” nos estudantes.
Um novo currículo com base nas
concepções contemporâneas de educação nos permitirá abordar a temática do
conhecimento de mundo nas escolas, de acordo com o conhecimento acumulado pela
humanidade e pelas ciências, para tanto é preciso mudança de postura do
educador. Este, precisa buscar e interpretar criticamente a realidade
contemporânea em sala de aula, ter nova conduta para alicerçar
a escolha dos conteúdos a serem discutidos em sua prática docente, pois vivemos
em um mundo de constantes transformações em todas as esferas da vida social
global e local.
A demanda é grande e requer um
educador como agente provocador, capaz de realizar as intervenções pedagógicas
necessárias no processo ensino-aprendizagem. Um educador que crie um ambiente
propício para a reflexão dos diversos campos que constituem a vida em sociedade
no seu contexto mais amplo. Dessa maneira contribuir para formar o novo homem
em um mundo em que o conhecimento é a chave para o desenvolvimento profissional
e, consequentemente, para uma vida melhor.
Neste contexto, as pesquisas
contemporâneas na área da educação mostram a importância do educador como
produtor e pesquisador na sua prática cotidiana. Educador consciente da
complexidade profissional e humana, ciente da necessidade da instituição dos
diversos saberes no espaço educacional contemporâneo.
Sendo assim, é notório que tanto as instituições de
ensino, quanto os processos de formação de professores devam ser reformulados
na perspectiva de oferecer ao profissional da educação subsídios humanos em
comunhão com os aspectos técnicos, no intuito de preparar o educador a dar
conta da complexidade e da problemática ação de ensinar e aprender em uma
sociedade pós-moderna.
[1] Professor, Especialista
em Educação e Poeta. Autor do livro: Nativos de Pindorama: conhecer para
respeitar é preciso. Editora Autografia, 1ª edição, Rio de Janeiro, 2018.