Vida em
plenitude?
As polícias Militar e Civil do
Rio de Janeiro, na madrugada de quinta-feira, 13 de março, começaram a ocupar a
comunidade da Vila Kennedy. A ação tinha como objetivo preparar a região para
receber a 38ª UPP, a segunda da Zona Oeste. Cerca de 300 homens que participavam
da operação chegaram na comunidade por volta das 5h, em comboios formados por
veículos policiais.
Vila Kennedy tem hoje cerca de 23
mil moradores. Apenas no primeiro semestre de 2013, mais de 200 pessoas, na sua
maioria jovens e negras, foram presas pela polícia da região. A comunidade,
assim como tantas outras da Zona Oeste, sofre por falta da ação do poder
público e de políticas públicas voltadas para melhoria das escolas, dos postos
de saúde, área de lazer e centros culturais que valorizem os artistas locais
como também ofereçam atividades e atrações que possam desenvolver o senso
critico e as potencialidades do cidadão local.
Por
fim, as bandeiras do Brasil e do estado do Rio de Janeiro foram hasteadas por
policiais civis, militares e bombeiros, durante cerimônia no campo Leão XIII,
onde será instalada a próxima Unidade Pacificadora do estado. Espera-se que após a
instalação haja redução do índice de violência na região. Logo, a Secretaria de
Segurança estima que 33 mil pessoas serão beneficiadas, considerando a
comunidade vizinha, a Favela da Metral.
Os moradores da Vila Kennedy, esperam que a
comunidade, a partir de agora, viva novos tempos, sem violência. Para essas
pessoas e tantas outras de comunidades pobres e desprovidas de qualquer ação do
Estado, violência é somente um ato físico praticado por um indivíduo contra o
outro. Não conseguem entender que existem várias formas de violência e que eles
as sofrem quase que na totalidade.
Jesus disse que veio para que tenhamos vida
em plenitude (Jo. 10:10). Mas como podemos viver em plenitude se somos
violentados o tempo todo por falta de transporte coletivo digno, por falta de
médicos nos postos de saúde e hospitais, de professores e de escolas e creches
para nossas crianças, coisas básicas e essências para que possamos viver bem?
Implantar UPP nas comunidades carentes é uma
medida paliativa que o governo adota para dizer que está fazendo algo pelos
mais pobres da sociedade. Tenho dúvidas quanto a eficácia e a prevalência desse
projeto num futuro próximo. Quem lembra o “piscinão” de Ramos e da
descentralização da queima de fogos, que vem acontecendo nos últimos anos. Será
que isso, na verdade, significa melhorar para os mais pobres ou é para tirá-los
das regiões freqüentadas pelos mais ricos. Da mesma forma as UPPs são para
proteger as comunidades ou para reprimi-las ainda mais?
É preciso ter fé na possibilidade de mudança
da organização social. E isso, só vai acontecer a partir da relação harmoniosa
e solidária entre todas as pessoas, independente da crença, da opção sexual, do
gênero e da etnia. Para tanto, nossa missão é disseminar “a justiça de Deus que se realiza através da fé em Jesus Cristo para
todos sem distinção” (Rm 3:22). Assim, um novo pensamento conduzirá nossos
caminhos para Terra onde corre leite e mel, é o Reino de Deus sendo construído
por cada um de nós. Não haverá mais nenhum tipo de violência, consequentemente
não será preciso UPP.
João Crispim Victorio