Vacinas e o movimento pendular da
história
João Crispim Victorio*
As vacinas são
substâncias produzidas a partir de agentes patogênicos, introduzidos no organismo
humano no intuito de estimular reações no sistema imunológico desencadeando
anticorpos que tornam o indivíduo imune
ou ao menos resistente ao agente e às doenças que ele provoca. Ou seja, quando uma pessoa é vacinada, pelo
vírus do sarampo, por exemplo, seu sistema imunológico produz anticorpos em uma velocidade suficiente para combater o invasor, evitando que a
pessoa fique doente.
Todo processo
de constituição da vacina tem início no século XVIII, com as pesquisas voltadas
para erradicação da varíola.
Doença que na época matou muita gente, principalmente crianças, quando acometidas
não chegavam à fase adulta. Por fim, através das experiências do médico inglês
Edward Jenner, em 1796, a vacina contra a varíola foi descoberta.
O médico observou
que as vacas possuíam nas tetas, feridas semelhantes às que a doença provocava
em humanos, numa versão mais leve. As mulheres, responsáveis por ordenhar
vacas, se infectavam com a varíola bovina e se tornavam imunes ao vírus humano.
Assim, Jenner recolheu o líquido que saía das feridas das vacas e aplicou nos
arranhões que fez no braço de um menino que teve um pouco de febre, mas se
recuperou rapidamente.
O cientista
foi além, recolheu secreção da ferida de um homem infectado e novamente expôs o
menino ao material. Algumas semanas depois, o menino que anteriormente havia
tido contato com o vírus da doença, passou por essa experiência imune. Dessa
forma iniciou-se o processo de imunização em massa utilizando o antígeno
causador da doença como estímulo ao sistema imunológico na produção dos
anticorpos que levam à imunidade.
O termo
vacina deriva de vacca no latim. O que a
vacina faz após ser inoculada nas pessoas, é gerar imunidade sem que elas fiquem
doentes. Com essa descoberta muitos foram salvos da
varíola, no passado, e de tantas outras doenças no presente.
Todavia, toda
novidade causa um certo temor e na época muitos tinham receio de após vacinados,
serem infectados pelo vírus e de fato adoecerem. Foi o que aconteceu em 1904,
na Cidade do Rio de janeiro, no episódio denominado a “Revolta da Vacina”. O
médico sanitarista Oswaldo Cruz decidiu executar uma grande empreitada
sanitária, com a finalidade de higienizar e modernizar a região. O projeto
consistia em retirar as pessoas das ruas e eliminar ratos, mosquitos e outros
animais tidos como maléficos. Depois submeter a população, de forma obrigatória,
à vacinação contra febre amarela, peste bubônica e varíola. A população reagiu
com protestos violentos, fazendo o governo rever a obrigatoriedade da vacina.
Hoje,
sabemos que a experiência da vacinação em massa fez com que muitas doenças
deixassem de ser um problema de saúde pública. Sabemos também, que o resultado disso
vai muito além de evitar as doenças do momento. Pois interfere diretamente na economia
do país, quando encarada como investimento. De fato, ao proporcionar gerações
futuras saudáveis, o Estado economiza significativamente nesse setor, sobrando
assim recursos para outras áreas como a da educação.
Doenças
como Poliomielite, Sarampo, Rubéola, Caxumba, Tétano e Coqueluche são exemplos
comuns que causaram sérios problemas no passado e que a geração atual só ouve
falar nos livros didáticos. Já que, com o processo
sistemático de vacinação, todas essas e algumas outras são consideradas
erradicas ou controladas.
Porém, nem
tudo são flores. Em pleno século XXI, com toda evolução humana fundamentada nas
teorias neomodernistas e neoliberais. Com todo avanço tecnológico e científico,
desenvolvido nos países ricos e nos países em desenvolvimento, vivemos um
retrocesso político, social e cultural. Nesse sentido, é possível perceber o
movimento pendular na
história. Esse fenômeno nos leva crer que não há um desenrolar de fatos em
linha reta, conforme a crença positivista e evolucionista de “progresso” e “evolução”.
Com base na concepção de movimento pendular da história, podemos dizer que
atualmente vivemos uma forte tendência do movimento em direção à direita do
espectro político, social e cultural.
Isso significa
que movimentos com bases no nazismo nacionalista, na família tradicional e no
fundamentalismo religioso, estão de volta e ganham forças, principalmente, cada
vez que um de seus representantes chega ao poder político central. Por isso, temos
visto crescer, nos últimos anos, no Brasil e no mundo o preconceito étnico, a
homofobia e tantas outras formas de discriminação que geram violência. Entre
estas, a resistência à vacinação, como a que ocorreu no início de século XX, na
cidade do Rio de Janeiro.
Tamanha
ignorância pode trazer de volta muitas
doenças infecciosas que pessoas nascidas a partir do final do século XX, podem
nunca ter tido contato devido as constantes campanhas de vacinação que foram
capazes de controlá-las. As doenças estão por aí e ainda fazem vítimas em alguns
lugares no mundo, principalmente nos mais pobres. Uma pessoa não vacinada pode
ser a porta de entrada de doenças já eliminadas.
As
vacinas são totalmente seguras. Pois, toda vacina licenciada foi antes testada por
diversas fases de avaliação, garantindo dessa forma toda segurança. A
vigilância de eventos adversos após a liberação da vacina, caso necessário, ocorre
por meio de processos capazes de rastreamento do produto.
Sendo
assim, não há por que tamanho retrocesso político, social e cultural,
principalmente, quando o assunto é nossa própria vida.
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deslumbrante
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povo...
[1] Diz-se daquilo que possui propriedades capazes de induzir o aparecimento de doenças.
[2] Proteínas que atuam no sistema imunológico como defensoras do organismo vivo contra bactérias, vírus e outros corpos estranhos.
[3] A varíola, também chamada de bexiga, é uma doença infectocontagiosa causada pelo vírus Orthopoxvirus variolae. Ao lado da peste negra, tuberculose e AIDS, a varíola é considerada uma das doenças mais mortais do planeta. Ela afeta o sistema imunológico provocando diversas deformações na pele.
[4] Substância ativa (vírus atenuado ou morto) que, introduzida no organismo, provoca a formação de anticorpos.
[5] O movimento oscilatório do pêndulo tende para o equilíbrio e quanto maior é o ângulo total de oscilação do pêndulo, maior e mais vigoroso é o movimento de retorno do pêndulo à posição oposta.