João Crispim Victorio*
As vacinas são
substâncias produzidas a partir de agentes patogênicos[1], introduzidos no organismo
humano no intuito de estimular reações no sistema imunológico desencadeando
anticorpos[2] que tornam o indivíduo imune
ou ao menos resistente ao agente e às doenças que ele provoca. Ou seja, quando uma pessoa é vacinada, pelo
vírus do sarampo, por exemplo, seu sistema imunológico produz anticorpos em uma velocidade suficiente para combater o invasor, evitando que a
pessoa fique doente.
Todo processo
de constituição da vacina tem início no século XVIII, com as pesquisas voltadas
para erradicação da varíola[3].
Doença que na época matou muita gente, principalmente crianças, quando acometidas
não chegavam à fase adulta. Por fim, através das experiências do médico inglês
Edward Jenner, em 1796, a vacina contra a varíola foi descoberta.
O médico observou
que as vacas possuíam nas tetas, feridas semelhantes às que a doença provocava
em humanos, numa versão mais leve. As mulheres, responsáveis por ordenhar
vacas, se infectavam com a varíola bovina e se tornavam imunes ao vírus humano.
Assim, Jenner recolheu o líquido que saía das feridas das vacas e aplicou nos
arranhões que fez no braço de um menino que teve um pouco de febre, mas se
recuperou rapidamente.
O cientista
foi além, recolheu secreção da ferida de um homem infectado e novamente expôs o
menino ao material. Algumas semanas depois, o menino que anteriormente havia
tido contato com o vírus da doença, passou por essa experiência imune. Dessa
forma iniciou-se o processo de imunização em massa utilizando o antígeno[4]
causador da doença como estímulo ao sistema imunológico na produção dos
anticorpos que levam à imunidade.
O termo
vacina deriva de vacca no latim. O que a
vacina faz após ser inoculada nas pessoas, é gerar imunidade sem que elas fiquem
doentes. Com essa descoberta muitos foram salvos da
varíola, no passado, e de tantas outras doenças no presente.
Todavia, toda
novidade causa um certo temor e na época muitos tinham receio de após vacinados,
serem infectados pelo vírus e de fato adoecerem. Foi o que aconteceu em 1904,
na Cidade do Rio de janeiro, no episódio denominado a “Revolta da Vacina”. O
médico sanitarista Oswaldo Cruz decidiu executar uma grande empreitada
sanitária, com a finalidade de higienizar e modernizar a região. O projeto
consistia em retirar as pessoas das ruas e eliminar ratos, mosquitos e outros
animais tidos como maléficos. Depois submeter a população, de forma obrigatória,
à vacinação contra febre amarela, peste bubônica e varíola. A população reagiu
com protestos violentos, fazendo o governo rever a obrigatoriedade da vacina.
Hoje,
sabemos que a experiência da vacinação em massa fez com que muitas doenças
deixassem de ser um problema de saúde pública. Sabemos também, que o resultado disso
vai muito além de evitar as doenças do momento. Pois interfere diretamente na economia
do país, quando encarada como investimento. De fato, ao proporcionar gerações
futuras saudáveis, o Estado economiza significativamente nesse setor, sobrando
assim recursos para outras áreas como a da educação.
Doenças
como Poliomielite, Sarampo, Rubéola, Caxumba, Tétano e Coqueluche são exemplos
comuns que causaram sérios problemas no passado e que a geração atual só ouve
falar nos livros didáticos. Já que, com o processo
sistemático de vacinação, todas essas e algumas outras são consideradas
erradicas ou controladas.
Porém, nem
tudo são flores. Em pleno século XXI, com toda evolução humana fundamentada nas
teorias neomodernistas e neoliberais. Com todo avanço tecnológico e científico,
desenvolvido nos países ricos e nos países em desenvolvimento, vivemos um
retrocesso político, social e cultural. Nesse sentido, é possível perceber o
movimento pendular[5] na
história. Esse fenômeno nos leva crer que não há um desenrolar de fatos em
linha reta, conforme a crença positivista e evolucionista de “progresso” e “evolução”.
Com base na concepção de movimento pendular da história, podemos dizer que
atualmente vivemos uma forte tendência do movimento em direção à direita do
espectro político, social e cultural.
Isso significa
que movimentos com bases no nazismo nacionalista, na família tradicional e no
fundamentalismo religioso, estão de volta e ganham forças, principalmente, cada
vez que um de seus representantes chega ao poder político central. Por isso, temos
visto crescer, nos últimos anos, no Brasil e no mundo o preconceito étnico, a
homofobia e tantas outras formas de discriminação que geram violência. Entre
estas, a resistência à vacinação, como a que ocorreu no início de século XX, na
cidade do Rio de Janeiro.
Tamanha
ignorância pode trazer de volta muitas
doenças infecciosas que pessoas nascidas a partir do final do século XX, podem
nunca ter tido contato devido as constantes campanhas de vacinação que foram
capazes de controlá-las. As doenças estão por aí e ainda fazem vítimas em alguns
lugares no mundo, principalmente nos mais pobres. Uma pessoa não vacinada pode
ser a porta de entrada de doenças já eliminadas.
As
vacinas são totalmente seguras. Pois, toda vacina licenciada foi antes testada por
diversas fases de avaliação, garantindo dessa forma toda segurança. A
vigilância de eventos adversos após a liberação da vacina, caso necessário, ocorre
por meio de processos capazes de rastreamento do produto.
Sendo
assim, não há por que tamanho retrocesso político, social e cultural,
principalmente, quando o assunto é nossa própria vida.
Imortal
Noites em silêncio
Dias inteiros sonhei
Viajei em minha astronave
deslumbrante
Milhões de imagens vislumbrei...
Bactérias e todas as formas de
vida
Terra e todos os planetas
Galáxias presentes, distantes
Galileu, uma viagem às estrelas...
Oh! Importante e influente
ciência estrangeira
Erguido está o castelo
Manguinhos, outrora manguezal
Sonho do cientista brasileiro
Símbolo de grande estima
Expresso na arquitetura
Na arte dos belos mosaicos e
vitrais
Newton, Einstein e todos os
pais...
Pasteur se visse invejaria
Oswaldo Cruz, vida polêmica e
gloriosa
Trajetória de serviços à ciência
Da academia imortal
Voz primeira da questão sanitária
Combatente das muitas epidemias
Destemidas campanhas de vacinação
“Quebra-lampião” a rebelião dos
ignorantes...
Qual importante à cultura de um
povo...
[1] Diz-se daquilo que possui propriedades capazes de induzir o aparecimento de doenças.
[2] Proteínas que atuam no sistema imunológico como defensoras do organismo vivo contra bactérias, vírus e outros corpos estranhos.
[3] A varíola, também chamada de bexiga, é uma doença infectocontagiosa causada pelo vírus Orthopoxvirus variolae. Ao lado da peste negra, tuberculose e AIDS, a varíola é considerada uma das doenças mais mortais do planeta. Ela afeta o sistema imunológico provocando diversas deformações na pele.
[4] Substância ativa (vírus atenuado ou morto) que, introduzida no organismo, provoca a formação de anticorpos.
[5] O movimento oscilatório do pêndulo tende para o equilíbrio e quanto maior é o ângulo total de oscilação do pêndulo, maior e mais vigoroso é o movimento de retorno do pêndulo à posição oposta.
REFERÊNCIAS:
VICTORIO, J. C. Sobre o Rio que Falo... editora EDITAL, Rio de Janeiro, 2015.
SEVENKO. N. A Revolta da Vacina, editora UNESP, São Paulo, 2018.
UJVARI, S. C. A História e Suas Epidemias, 2ª edição, Senac rio, Rio de Janeiro, 2003.
AZILDE L. Andreotti. O Pêndulo da História – Tempo e Eternidade no Pensamento Católico (1800-1960). Disponível em < http://www.scielo.br/pdf/es/v26n93/27292.pdf> acessado em novembro de 2019.
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