sábado, 16 de maio de 2020

Vacinas e o movimento pendular da história
João Crispim Victorio*

“...Noites em silêncio
dias inteiros sonhei
Viajei em minha astronave deslumbrante
milhões de imagens vislumbrei...”

      As vacinas são substâncias produzidas a partir de agentes patogênicos[1], introduzidos no organismo humano no intuito de estimular reações no sistema imunológico desencadeando anticorpos[2] que tornam o indivíduo imune ou ao menos resistente ao agente e às doenças que ele provoca. Ou seja, quando uma pessoa é vacinada, pelo vírus do sarampo, por exemplo, seu sistema imunológico produz anticorpos em uma velocidade suficiente para combater o invasor, evitando que a pessoa fique doente.
      Todo processo de constituição da vacina tem início no século XVIII, com as pesquisas voltadas para erradicação da varíola[3]. Doença que na época matou muita gente, principalmente crianças, quando acometidas não chegavam à fase adulta. Por fim, através das experiências do médico inglês Edward Jenner, em 1796, a vacina contra a varíola foi descoberta.

“...Bactérias e todas as formas de vida
Terra e todos os planetas
Galáxias presentes, distantes
Galileu Galilei, uma viagem às estrelas...”

      O médico observou que as vacas possuíam nas tetas, feridas semelhantes às que a doença provocava em humanos, numa versão mais leve. As mulheres, responsáveis por ordenhar vacas, se infectavam com a varíola bovina e se tornavam imunes ao vírus humano. Assim, Jenner recolheu o líquido que saía das feridas das vacas e aplicou nos arranhões que fez no braço de um menino que teve um pouco de febre, mas se recuperou rapidamente.
      O cientista foi além, recolheu secreção da ferida de um homem infectado e novamente expôs o menino ao material. Algumas semanas depois, o menino que anteriormente havia tido contato com o vírus da doença, passou por essa experiência imune. Dessa forma iniciou-se o processo de imunização em massa utilizando o antígeno[4] causador da doença como estímulo ao sistema imunológico na produção dos anticorpos que levam à imunidade.

“...Oh! Importante ciência estrangeira
Erguido está o castelo
Manguinhos, outrora manguezal
Sonho do cientista brasileiro...”

      O termo vacina deriva de vacca no latim. O que a vacina faz após ser inoculada nas pessoas, é gerar imunidade sem que elas fiquem doentes. Com essa descoberta muitos foram salvos da varíola, no passado, e de tantas outras doenças no presente.
      Todavia, toda novidade causa um certo temor e na época muitos tinham receio de após vacinados, serem infectados pelo vírus e de fato adoecerem. Foi o que aconteceu em 1904, na Cidade do Rio de janeiro, no episódio denominado a “Revolta da Vacina”. O médico sanitarista Oswaldo Cruz decidiu executar uma grande empreitada sanitária, com a finalidade de higienizar e modernizar a região.
      O projeto consistia em retirar as pessoas das ruas e eliminar ratos, mosquitos e outros animais tidos como maléficos. Depois submeter a população, de forma obrigatória, à vacinação contra febre amarela, peste bubônica e varíola. A população reagiu com protestos violentos, fazendo o governo rever a obrigatoriedade da vacina.

“...Símbolo de grande estima
expresso na arquitetura
na arte dos belos mosaicos e vitrais
Newton, Einstein e todos os pais...

      Hoje, sabemos que a experiência da vacinação em massa fez com que muitas doenças deixassem de ser um problema de saúde pública. Sabemos também, que o resultado disso vai muito além de evitar as doenças do momento. Pois interfere diretamente na economia do país, quando encarada como investimento. De fato, ao proporcionar gerações futuras saudáveis, o Estado economiza significativamente nesse setor, sobrando assim recursos para outras áreas como a da educação.
      Doenças como Poliomielite, Sarampo, Rubéola, Caxumba, Tétano e Coqueluche são exemplos comuns que causaram sérios problemas no passado e que a geração atual só ouve falar nos livros didáticos. Já que, com o processo sistemático de vacinação, todas essas e algumas outras são consideradas erradicas ou controladas.
      Porém, nem tudo são flores. Em pleno século XXI, com toda evolução humana fundamentada nas teorias neomodernistas e neoliberais. Com todo avanço tecnológico e científico, desenvolvido nos países ricos e nos países em desenvolvimento, vivemos um retrocesso político, social e cultural. Nesse sentido, é possível perceber o movimento pendular[5] na história. Esse fenômeno nos leva crer que não há um desenrolar de fatos em linha reta, conforme a crença positivista e evolucionista de “progresso” e “evolução”. Com base na concepção de movimento pendular da história, podemos dizer que atualmente vivemos uma forte tendência do movimento em direção à direita do espectro político, social e cultural.

“...Pasteur se visse invejaria
Oswaldo Cruz, vida polêmica e gloriosa
Trajetória de serviços à ciência
da academia imortal...

      Isso significa que movimentos com bases no nazismo nacionalista, na família tradicional e no fundamentalismo religioso, estão de volta e ganham forças, principalmente, cada vez que um de seus representantes chega ao poder político central. Por isso, temos visto crescer, nos últimos anos, no Brasil e no mundo o preconceito étnico, a homofobia e tantas outras formas de discriminação que geram violência. Entre estas, a resistência à vacinação, como a que ocorreu no início de século XX, na cidade do Rio de Janeiro.
      Tamanha ignorância pode trazer de volta muitas doenças infecciosas que pessoas nascidas a partir do final do século XX, podem nunca ter tido contato devido as constantes campanhas de vacinação que foram capazes de controlá-las. As doenças estão por aí e ainda fazem vítimas em alguns lugares no mundo, principalmente nos mais pobres. Uma pessoa não vacinada pode ser a porta de entrada de doenças já eliminadas.

“...Voz primeira da questão sanitária
Combatente das muitas epidemias
Destemidas campanhas de vacinação
“Quebra-lampião” a rebelião dos ignorantes...

      As vacinas são totalmente seguras. Pois, toda vacina licenciada foi antes testada por diversas fases de avaliação, garantindo dessa forma toda segurança. A vigilância de eventos adversos após a liberação da vacina, caso necessário, ocorre por meio de processos capazes de rastreamento do produto.
      Sendo assim, não há por que tamanho retrocesso político, social e cultural, principalmente, quando o assunto é nossa própria vida.

“...Há murmúrios nas ruas
A notícia ganha letras garrafais
nas primeiras páginas dos jornais
Qual importante à cultura de um povo...


Imortal

Noites em silêncio
dias inteiros sonhei
Viajei em minha astronave deslumbrante
milhões de imagens vislumbrei...

Bactérias e todas as formas de vida
Terra e todos os planetas
Galáxias presentes, distantes
Galileu Galilei, uma viagem às estrelas...

Oh! Importante ciência estrangeira
Erguido está o castelo
Manguinhos, outrora manguezal
Sonho do cientista brasileiro...

Símbolo de grande estima
expresso na arquitetura
na arte dos belos mosaicos e vitrais
Newton, Einstein e todos os pais...

Pasteur se vise invejaria
Oswaldo Cruz, vida polêmica e gloriosa
Trajetória de serviços à ciência
da academia imortal...

Voz primeira da questão sanitária
Combatente das muitas epidemias
Destemidas campanhas de vacinação
“Quebra-lampião” a rebelião dos ignorantes...

Há murmúrios nas ruas
A notícia ganha letras garrafais
nas primeiras páginas dos jornais
Qual importante à cultura de um povo...



REFERÊNCIAS:
VICTORIO, J. C. Sobre o Rio que Falo... editora EDITAL, Rio de Janeiro, 2015.
SEVENKO. N. A Revolta da Vacina, editora UNESP, São Paulo, 2018.
UJVARI, S. C. A História e Suas Epidemias, 2ª edição, Senac rio, Rio de Janeiro, 2003.
AZILDE L. Andreotti. O Pêndulo da História – Tempo e Eternidade no Pensamento Católico (1800-1960). Disponível em < http://www.scielo.br/pdf/es/v26n93/27292.pdf> acesso em novembro de 2019.

* Professor, escritor e poeta.

[1] Diz-se daquilo que possui propriedades capazes de induzir o aparecimento de doenças.
[2] Proteínas que atuam no sistema imunológico como defensoras do organismo vivo contra bactérias, vírus e outros corpos estranhos.
[3] A varíola, também chamada de bexiga, é uma doença infectocontagiosa causada pelo vírus Orthopoxvirus variolae. Ao lado da peste negra, tuberculose e AIDS, a varíola é considerada uma das doenças mais mortais do planeta. Ela afeta o sistema imunológico provocando diversas deformações na pele.
[4] Substância ativa (vírus atenuado ou morto) que, introduzida no organismo, provoca a formação de anticorpos.
[5] O movimento oscilatório do pêndulo tende para o equilíbrio e quanto maior é o ângulo total de oscilação do pêndulo, maior e mais vigoroso é o movimento de retorno do pêndulo à posição oposta.

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