Dia Internacional das Mulheres
*João Crispim Victorio
Nos relatos bíblicos, do
Antigo e do Novo Testamento, encontramos muitas ações de sabedoria, de
resistência e de esperança referentes às mulheres. Sabemos, porém, que nesses
textos pesam também os preconceitos e as discriminações contra as mulheres.
Isso é um marco negativo presente na vida da humanidade e a mulher em razão
disso sofreu grandes perdas. Já que ao longo da história, elas estiveram sempre
subjugadas às vontades dos homens devido a nossa formação social, milenar,
baseada no sistema patriarcal. Cito apenas alguns exemplos, a partir do início
de tudo. Não por acaso, Deus criou Eva (mulher) das costelas de Adão (Homem)
(Gn 2:21-23), isso é uma demonstração clara de que Deus criou a mulher para
estar ao lado do homem.
mulher de personalidade vigorosa e de vontade própria. Foi hábil, decidida
e perseverante na fé. Não desistiu dos seus sonhos. Outra mulher que merece
destaque é Débora, dona-de-casa, profetisa e juíza em Israel. Ocupou um
cargo político com excelência. Débora traçou estratégias de batalha e
conquistou muitas vitórias para Israel (Jz 4:4-10). Foi a libertadora do povo
hebreu em tempos de guerra contra os cananeus.
Lembremos-nos da judia Ester.
Criada por um parente, a órfã Ester foi a rainha mais importante que Israel
teve (Est 2:15-18). Sábia, não se desesperava para tomar decisões. Destemida e
ousada de fé admirável, não teve medo de agir. Ester era humilde, em vez de se
mostrar a dona da razão, procurava respeitar a opinião dos outros (Est 4:15-17;
7:3-4). Outra figura marcante foi Rute. Pois viveu como estrangeira junto
a um povo que possuía hábitos culturais e sociais que não eram os seus. Um povo
que estava naquele momento se reencontrando e resgatando suas origens a fim de
purificar sua etnia. Rute, portanto, teve que agir com sabedoria, com prudência
e humildade junto a sua família e a esse povo. Quando ficou viúva se apegou à
sogra pronta para servi-la e acompanhá-la. Rute possuía as virtudes
da amizade, da fidelidade, da dedicação e do desprendimento. “Aonde você for, eu também irei. Onde
você viver, eu também viverei. Seu povo será meu povo, e seu Deus será o meu
Deus”. (Rt 1:16). Esses relatos
são apenas alguns exemplos de muitos que podemos encontrar no Antigo
Testamento.
No Novo Testamento, temos
muitos relatos com a importante participação das mulheres. Vamos nos ater aqui
não nos relatos, mas em duas personagens: Maria, a mãe de Jesus (Mt 1:18-19) e
Maria, chamada Madalena (Lc 8:1-3; 11:26; Mc 16:9). Essas duas mulheres, cada
uma a sua maneira, representam a luta pelo direito a vida, a certeza de que é
preciso estar organizado em comunidade e a necessidade de resistir sempre
contra qualquer tipo de opressão e, particularmente no caso das mulheres,
resistir também contra as imposições preconceituosas de uma sociedade
patriarcal. Maria e Madalena tiveram papéis de extrema relevância na trajetória
de vida de Jesus e na promoção de uma sociedade de justiça e de fraternidade,
ou seja, na consolidação do Reino de Deus.
Podemos observar, por
meio dos fatos históricos, relatados na Bíblia a luta de algumas mulheres pela
libertação da submissão impostas a elas. Hoje, apesar de vivermos numa
sociedade moderna, as coisas não são tão diferentes. Pois, a primeira
experiência de preconceito sofrida pela mulher acontece na família, depois na
escola e no trabalho.
Em razão detantas situações de preconceitos e de
discriminação, as mulheres se uniram para conquistar respeito e direitos na
família, no trabalho e, enfim, na vida. Essa história vem ganhar notoriedade no
século XIX, mais propriamente em 1857, com a greve das operárias de uma fábrica
têxtil na cidade de Nova Iorque. As operárias depois de presas à fábrica que
trabalhavam, cerca de 130 mulheres, foram queimadas vivas. Elas reivindicavam
melhores condições de trabalho, diminuição da carga horária de 16 para 10 horas
diárias e salários dignos.
Em 1903, profissionais
liberais norte-americanas criaram a Women's Trade Union League. Esta associação
tinha como principal objetivo ajudar todas as trabalhadoras a exigirem melhores
condições de trabalho. Cinco anos mais tarde, em 1908, mais de 14 mil mulheres
marcharam nas ruas de Nova Iorque reivindicando o mesmo que as operárias no ano
de 1857, mais o direito de voto. Caminhavam com o slogan "Pão e
Rosas", em que o pão simbolizava a estabilidade econômica e as rosas uma
melhor qualidade de vida.
Em 8 de março de 1910, na
Dinamarca, aconteceu uma conferência internacional de mulheres, onde além de
discutirem assuntos de seus interesses, decidiram oficializar a data da
conferência, pelo fato de ter sido um marco na organização das mulheres, como uma
homenagem àquelas mulheres que foram assassinadas de forma covarde e brutal
pelos donos das fábricas têxtil em 1857. Mas somente no ano de 1975, através de
um decreto, a data foi oficializada pela Organização das Nações Unidas.
No Brasil, com a reforma
da constituição federal de 1932, as mulheres brasileiras conquistaram alguns
direitos trabalhistas, além do direito ao voto e a cargos políticos no
executivo e no legislativo. Dessa época até os dias de hoje, houve alguns
avanços na luta das mulheres por reconhecimento do seu valor intelectual e
braçal, muitos transformados em lei na Constituição de 1988, outros depois da Constituição
e outros caminham em processo no legislativo. Neste sentido, um avanço
importante foi a aprovação da Lei Maria da Penha. Vitória das mulheres contra a
violência praticada sem punição aos “machões”. Isso vem reforçar a importância
da organização e da perseverança na luta contra todo tipo de preconceito e
violência.
O dia 8 de março é uma
data para ser comemorada como resgate dessas lutas e reconhecimento da
dedicação e da entrega, muitas das vezes, da própria vida, de mulheres que não
deixaram de se indignar com tantos preconceitos e discriminações. É também um
convite à reflexão da vida humana, do papel de cada homem e de cada mulher na
sociedade e do que é realmente necessário para uma vida justa e fraterna sem
distinção de gêneros.
Março de
2015.
*Professor, Especialista em Educação e Poeta.