Matéria, origem e constituição.
João Crispim Victorio[i]
A filosofia da natureza trata do conhecimento das primeiras causas e dos princípios do mundo material. É a precursora das ciências naturais, constituída nas áreas das ciências que visam estudar a natureza e suas leis mais gerais e fundamentais. Tais estudos concentram-se especificamente nos aspectos físicos e não no humano ou comportamental. Embora, não podemos ignorar que, em se tratando das para as ciências naturais, na sua forma abrangente, o ser humano é parte integrante da natureza e, por isso, sujeito as leis que regem todos os acontecimentos físicos, químicos e biológicos no universo.
Nesse sentido, a filosofia da natureza, durante muito tempo, foi quem tratou de desenvolver e descrever os estudos dos fenômenos naturais, numa concepção empírica[1]. Pois, seu foco era os movimentos e as mudanças que ocorriam naturalmente, tal como a geração, o crescimento, a queda dos corpos e os movimentos circulares dos corpos celestes. Já o termo ciência só vai surgir no início da modernidade, durante a Revolução Científica[2]. O mesmo foi caracterizado pelo interesse na técnica e na ciência experimental, por meio da metodologia que garante o conhecimento e tem desdobramento prático para a sociedade e para a vida humana.
Dentro de todo esse contexto, a matéria, desde os primórdios, vem sendo objeto de estudo do ser humano. Tales, por exemplo, acreditava que a água era a materia fundamental para a existência de todas as coisas; Heráclito acreditava que os corpos celestes eram feitos de fogo; Anaxímenes acreditava que a partir do ar se poderia criar fogo, água e terra; Empédocles identificou os elementos formadores de todas as coisas como fogo, ar, terra e água; Leucipo e Demócrito são considerados os pais dos átomos[3], as partículas fundamentais na formação da matéria; e Aristóteles, que passou adotar os quatro elementos de Empédocles, acrescentando o éter, como um quinto elemento. Tornando-se o primeiro a criar um conceito de matéria e forma com base filosófica sólida.
A ciência moderna desenvolveu a Teoria do Big Bang para explicar o início de todo o universo. Sustenta a teoria que o universo surgiu a partir da grande explosão de uma partícula sólida, criada a partir da concentração de varias substâncias. Essa imensa partícula chega à exaustão e ao explodir espalha, em forma de poeira cósmica, as matérias já existentes e devido ao ambiente propício vai formando novas outras que vão se espalhando e ao mesmo tempo se reagrupando em novos corpos celestes. Segundo a teoria, esse processo continua acontecendo lentamente.
Então, a matéria foi esfriando e os átomos foram se condensando formando os corpos celestes como as estrelas e os planetas. Dessa forma, sugere que a matéria está em tudo, sendo assim, a matéria ocupa um lugar no espaço, possui massa e, portanto, volume. Em termo geral a matéria pode ser constituída por uma ou várias substâncias que, por sua vez, são formadas devido às interações que ocorrem naturalmente entre os átomos.
As substâncias formadoras da matéria podem ser consideradas como simples, constituídas por átomos de um mesmo elemento químico ou compostas, constituídas por dois ou mais átomos de diferentes elementos químicos. Os átomos quando interagem, de acordo com suas classificações periódicas de metais ou ametais, formam os compostos moleculares ou iônicos[4] que, também, interagem entre si, por meio das forças intermoleculares consolidando uma determinada substância. Ou seja, uma substância é formada por moléculas ou aglomerados iônicos que tem na sua essência os átomos iguais ou diferentes que interagiram entre si.
Quando nos referimos aos elementos químicos é bom saber que estamos falando apenas de um pouco mais de uma centena deles e não podemos confundi-los com os átomos em si, pois, um elemento químico é formado por um conjunto muito grande de átomos iguais. E graças a enorme possibilidade de suas mais diversas ligações, que temos o universo do jeito que o conhecemos. Isso só é possível devido à dança dinâmica e perfeita do universo que leva tais átomos a buscar afinidade química e, por fim, a estabilidade eletrônica[5].
Voltando a matéria, podemos dizer que não há um só significado científico que seja consenso para definir matéria e muitas das vezes o termo é usado de maneira incompatível. Na concepção de Aristóteles matéria é algo que está sendo formado, em contraste com a concepção moderna de matéria que sustenta estar ocupando lugar no espaço. Outra dificuldade, por exemplo, consiste em decidir quais formas de energia não são matéria e a física e a química concebem que há uma dualidade[6], a matéria tem propriedades ora de onda, ora de partícula.
É importante notar, então, que a ciência está em constante evolução, várias teorias são construídas e outras caem por terra desde a Antiguidade, passando pela Idade Média, Moderna e a atual Contemporânea. A ciência e a tecnologia evoluem de forma concomitante com a sociedade. Mas nos últimos tempos, tem havido a necessidade de uma reflexão sobre a palavra evolução, no sentido da preservação da natureza, da espécie humana e de todos os seres vivos que habitam esse planeta tão negligenciado por todos nós.
Rio de Janeiro, 29 de Junho de 2017.
Referencias:
Marcos Braga, Andreia Guerra e José Claudio Reis. Breve história da ciência moderna. Vol. 1,2,3 e 4. Rio de Janeiro - RJ, Jorge Zahar, 2003.
A.R. ROSSETTI. Quimicamente Falando. 2ª Ed. Porto Alegre – RS, Editora Solidus, 2004.
Disponível em < www.cdcc.usp.br/exper/medio/quimica/1compostosg_1.pdf> acesso em 26/6/2017.
Disponível em <http://www.ghtc.usp.br/server/Sites-HF/Felipe-Lourenco/inicial.htm > acesso em 23/6/2017.
Disponível em < https://www.significados.com.br> acesso em 29/6/2017.
[1] Fato que se apoia em experiências vividas e não em teorias e métodos científicos.
[2] Período no qual mudanças históricas na forma de pensamento e de fé ocorreram na Europa, entre os anos de 1550 e 1700. Iníciou com Nicolau Copérnico, modelo heliocêntrico, e terminou com Issac Newton, Leis universais da natureza.
[3] Leucipo e seu discípulo Demócrito (séc. V a.C), desenvolveram a teoria atomista que defendia que todos os objetos conhecidos são, na verdade, diferentes arranjos de átomo. A palavra “átomo” vem do grego (a=não, tomo=divisão) e significa “algo que não pode ser dividido”, pois se acreditava que os átomos eram indivisíveis e a matéria era composta por essas minúsculas partículas elementares, de várias formas e tamanhos.
[4] Os compostos iônicos são formados por átomos dos elementos químicos metais e ametais, a força de atração elétrica mantém os cátions (metais) e os ânions (ametais) firmemente ligados uns aos outros. Já os compostos moleculares são formados por átomos dos elemento químicos ametais e possuem somente ligações covalentes entre esses átomos.
[5] A estabilidade eletrônica está baseada na “regra do octeto”. Regra que sugere a quantidade de 8 elétrons na camada de valência de um átomo para que o mesmo fique estável. Dessa forma, os átomos realizam ligações químicas, formando os compostos, ganhando, perdendo ou compartilhando os elétrons de suas camadas de valências.
[6] No começo do século 20, Albert Einstein, ao estudar o efeito fotoelétrico, exibiu um comportamento corpuscular da luz. Esses estudos previram e confirmaram a difração, efeito tipicamente ondulatório, dos elétrons. Na escala atômica, de repente tornou- se complexo explicar essa aparente dualidade partícula-onda da luz. Esta situação persistiu até o advento da mecânica quântica, que conseguiu unificar teoricamente o comportamento dual partícula-onda não só da luz, mas da matéria de uma forma geral.
[i] Professor, Especialista em Educação e Poeta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário