terça-feira, 29 de maio de 2018
Encontro com Lula na prisão: espiritualidade e política
08/05/2018
No dia 7 de maio cumpriam-se 30 dias de prisão do ex-presidente Lula. Foi-lhe concedida pela primeira vez receber a visita de amigos. Tive a honra de ser o primeiro a encontrá-lo pela amizade de mais de 30 anos e pela comunhão de causa: a libertação dos emprobrecidos e para reforçar a dimensão espiritual da vida. Cumpri o preceito evangélico:”estava preso e me visitaste”.
Encontrei-o como o conhecemos fora da prisão: rosto, cabelo e barba, apenas levemente mais magro. Os que queriam vê-lo acabrunhado e deprimido devem se decepcionar. Está cheio de ânimo e de esperança. A cela é um amplo quarto, muito limpo, com armários embutidos, banheiro e chuveiro numa área fechada. A impressão é boa embora viva numa solitária, pois, à exceção dos advogados e dos filhos, só pode falar com o guarda de origem ucraina, gentil e atento, que se tornou um admirador de Lula.Traz-lhe as marmitas, ora mais mais quentes ora mais frias e café, sempre que solicita. Lula não aceita nenhum alimento que os filhos lhe que trazem, porque quer se alimentar como os demais presos, sem nenhum privilégio. Tem seu tempo de tomar sol. Mas ultimamente, enquanto o faz, aparecem drones sobre o espaço. Por precaução Lula logo vai embora, pois não se sabe qual seja o propósito destes drones, fotografá-lo ou, quem sabe, algo mais sinistro.
O importante foi a conversação de natureza espiritual na qual se misturavam observações políticas.. Lula é um homem religioso, mas da religiosidade popular para a qual Deus é uma evidência existencial. Encontei-o lendo um livro meu, “O Senhor é meu pastor”,(da Vozes) um comentário do famoso salmo 23 o mais lido dos salmos e também por outras religiões. Sentia-se fortificado e confirmado, pois a Bíblia geralmente critica os pastoes políticos e exalta aqueles que cuidam dos pobres, dos órfãos e das viúvas. Lula se sente nesta linha, com suas política sociais que beneficaram a tantos milhões. Não aceita a crítica de populista, dizendo: eu sou povo e vim do povo e oriento o mais que posso a política para ele.
Na cabeceira da cama há um crucifixo. Aproveita o tempo de reclusão estrita para refletir, meditar, rever tantas coisas de sua vida e aprofundar as convicções fundamentais que dão sentido a sua ação política, aquilo que sua mãe Lindu (que a sente como um anjo protetor e inspirador) sempre lhe repetia: sempre ser honesto e lutar e mais uma vez lutar. Vê nisso o sentido de sua vida pessoal e política: lutar para que haja vida digna para todos e não só para alguns à custa dos outros. A grandeza de um político se mede pela grandeza de sua causa, disse enfaticamente. E a causa tem que ser produzir vida para todos a começar pelos que menos vida têm. Em função disso não aceita derrotas definitivas. Nem quer cair de pé. O que não quer é cair. Mas manter-se fiel a seu propósito de base e fazer da política o grande instrumento para ordenar a vida em justiça e paz para todos, particularmente aos que vivem no inferno da fome e da miséria.
Esse sonho possui grandeza ética e espiritual inegável. É à luz destas convicções que se mantém tranquilo, pois diz e repete: vive desta verdade interior que possui força própria e vai se revelar um dia. “Só quero”, comentava, “que seja depois de minha morte, mas ainda em meu tempo de vida”. Indigna-se profundamente por causa das mentiras que divulgam contra ele e sobre elas montaram o processo do triplex. Pergunta-se, como podem as pessoas mentirem conscientemente e poderem dormir em paz? Faz um desafio ao juiz Sérgio Moro: “apresente-me uma única prova sequer, de que sou dono do triplex de Guarujá. Se aprensentar renunciarei à candidatura à presidência”. Recomendou-me que passasse esse recado à imprensa e aos que estão no acampamento:“Sou candidatíssimo. Quero levar avante o resgate dos pobres e fazer das política sociais em prol deles, políticas de Estado e que os custos que são investimentos entrem no orçamento da União. Irei radicalizar estas políticas para os pobres, junto com os pobres e dignificar nosso país”.
A meditação o fez entender que esta prisão possui um significado que transcende a ele, a mim e às disputas políticas. Deve ser o mesmo preço que Gandhi e Mandela pagaram com prisões e perseguições para alcançarem o que alcançaram. “Assim creio e espero”, dizia, “que é o que estou passando agora”.
Eu que entrei para anima-lo, saí animado. Espero que outros também se animem e gritem o “Lula livre” contra uma Justiça que não se mostra justa.
Leonardo Boff é teólogo e escreveu: Brasil: concluir a refundação ou prolongar a dependênciancia,Vozes 2018.
quarta-feira, 23 de maio de 2018
terça-feira, 15 de maio de 2018
Todo
19 de abril, comemoramos no Brasil o Dia do Índio – mas este povo
merece ser exaltado todos os dias do ano, e, acima de tudo,
respeitado. Para ajudar a fazer a diferença em relação a este
assunto, o professor João Crispim Victorio lança “Nativos de
Pindorama – Conhecer para respeitar é preciso”.
A
obra vem para fazer valer a inclusão da disciplina “História e
Cultura Afro-Brasileira e Indígena” no currículo oficial da rede
de ensino. Além disso, o autor quer ajudar a desmistificar questões
acerca do povo indígena, principalmente lutando contra o preconceito
e a sua marginalização.
Os
índios continuam em luta por seu merecido espaço, principalmente
relacionados ao poder público. “Nativos de Pindorama – Conhecer
para respeitar é preciso” traz muitos estudos e reflexões sobre o
assunto, pelas mãos de Crispim, um professor que mergulhou na
temática, discorrendo e argumentando com excelência.
João
Crispim Victorio nasceu na cidade do Rio de Janeiro, no bairro de
Campo Grande, em 05 de dezembro de 1964. Estudou nas escolas
públicas, nas quais gostava de estar, onde começou a se encantar
com as letras e as histórias. Formou-se em Química e Pedagogia,
atua como professor das redes pública e privada de educação. O
autor, desde criança, encanta-se com a organização social e
importa-se com as questões indígenas. Para ele, o dia do índio é
todo dia. João Crispim Victorio é autor dos livros: Sobre o
Trabalho que Falo… (2013) e Sobre o Rio que Falo… (2015) e Sobre
Nós que Falo… (2017).
segunda-feira, 7 de maio de 2018
A
mesma história
O
menino sai de casa
Quando
vai alta madrugada
Corre
atrás de um emprego
Não
é o último, nem o primeiro
Espera
o trem na estação
Aprendeu
desde cedo está lição
Perde
os sonhos na realidade
Infância
extirpada à metade...
Acabou-se
a brincadeira
Vai
trabalhar numa caldeira
Magro
corpo esmirrado
É
só mais um pobre coitado...
O
menino volta a casa
Quando
o sol se foi na longa estrada
No
semblante o ar tristonho
Feito
toda aquela gente grande
Fim
de mais um dia de trabalho
Glória
esperada por todo operário
O
chão da fábrica é sua prisão
Símbolo
forte da malvada opressão...
Tiraram-lhe
os livros
Os
seus passos não são mais livres
O
menino transformou-se num rapaz
Seu
sorriso pouco a pouco foi ficando para trás...
Na
ilusão de ser um homem de verdade
Cresce
na expectativa da tal oportunidade
Não
entende os motivos de tantas desgraças
Por
conta disso toma mais um gole de cachaça
Mas
parece ser sempre a mesma história
Sente
agora falta da sua velha escola
Nesses
momentos tem um aperto no coração
Segura
suas lágrimas porque homem não chora não...
Poema de João Crispim Victorio
Livro: Sobre o Trabalho que Falo... (2013)
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