Sina Nordestina
I
Nasce o menino
Destino sofredor
Cresce desnutrido
Retraído, vida de
labor...
Andar léguas tiranas
Passar fome, fugir
da seca, da morte
Faz parte da sua
infância...
Analfabeto
Sem profissão
Trabalha a terra
Mas não tem terra!
Decepar cana é a
solução
O que resta é o
pau-de-arara
Realizar o sonho
Migrar para cidade
grande
Trabalhar e enricá...
Quem sabe um dia à
terra natal voltar...
II
Chega à cidade
grande
Fugindo da seca e do
abandono
Vem tentar a sorte
Concretizar seu
único sonho
Mudar seu destino
por meio de um emprego
- Quem sabe!
Num duro golpe sofre
a primeira decepção
Discriminado pelo
jeito como fala
Trabalho, só de pião
nas construções
Morar, só na favela...
O respeitado cidadão
– Segundo a Constituição!
É apenas mais um na
fila de espera
Enche o mercado de
trabalho e o bolso do patrão
Estatística
crescente do desemprego e da violência...
Vítima da solidão
Lembra a mulher
amada
Do lugar onde morava
São noites e dias de
saudades
Uma dose de cachaça
para suportar...
- Mais uma, por
favor!
Por alguns momentos
vem ao pensamento
As tradições de sua
gente
As lágrimas logo
enchem os olhos
Dá vontade de chorar...
No peito o medo
A dor...
Consequência da
fraqueza
Diante da sina
imposta
E da incerteza de um
dia poder voltar...
Poema de João
Crispim Victorio.
Livro: Sobre o
Trabalho que Falo...
08 de julho de
2016.
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